terça-feira, 24 de novembro de 2009

Quando os amantes dormem...


Quando as pessoas se amam
e querem se amar, selam um pacto:
dormir juntas.

E quando se fala "dormir juntos"
o sentido é duplo:

Significa primeiro amar acordado
em plena vigília da carne,
mas, depois, na lassidão do pós-gozo,
deixar os corpos lado a lado,
à deriva, dormindo, talvez.

Na verdade, os amantes,
quando são amantes mesmo,
mesmo enquanto dormem se amam.

"Durante o tempo que você quiser
nós dormiremos juntos".

E penso. É um projeto de vida,
dormir juntos, continuamente.

A mesma ambigüidade:
dormir/amar juntos,
dormir/acordar juntos,
ou então,
dormir/morrer de amor juntos.

Deve ser por causa disto que os franceses
chamam o orgasmo de "pequena morte".

Deve ser por isto que os amantes
julgam poder continuar amando
mesmo através da morte,
como Inês de Castro e D. Pedro,
que foram sepultados um diante do outro,
para que no dia do reencontro um
seja o primeiro que o outro veja.

Amor: um projeto de vida,
um projeto de morte.

Se numa noite dessas o vento da insônia
soprar em suas frestas,
repare no corpo dormindo
despojado ao seu lado.

Ver o outro dormir
é negócio de muita responsabilidade.

Mais que ver as águas de um rio
represado gerando uma usina de sonhos,
é ver uma semente na noite pedindo um guardião.

Pode ser banal, mas é isto:
amar é ser o guardião do sonho alheio.

Os surrealistas diziam:
o poeta enquanto dorme, trabalha.

Pois os amantes enquanto dormem, se amam.

Se amam inconscientemente,
quando seus desejos enlaçam raízes e seivas.

O pé de um toca o pé do outro,
a mão espalmada corre sobre o lençol
e toca o corpo alheio e,
dormindo, se abraçam animados.

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